![“Eu lembro dele trabalhando dia e noite para nos dar tudo aquilo que ele não teve”, diz filha de idoso morto com 20 facadas no centro de Santa Maria “Eu lembro dele trabalhando dia e noite para nos dar tudo aquilo que ele não teve”, diz filha de idoso morto com 20 facadas no centro de Santa Maria](https://suitacdn.cloud-bricks.net/fotos/906798/file/desktop/5.jpg?1708706781)
Foto: Arquivo Pessoal
José junto dos filhos Michele, Maiquel, Micael e Michel.
Um pai orgulhoso, batalhador e apaixonado por pescaria. É assim que Michele Andrade descreve o pai, José Carlos Lopes de Andrade, morto com 20 facadas no centro de Santa Maria na tarde desta quinta-feira (22). Em um misto de surpresa, revolta e insegurança, a família aguarda o exame de perícia e a liberação do corpo do Instituto Médico Legal (IML) para dar início aos atos fúnebres. Também segue o mistério sobre o motivo do crime, que está sendo investigado pela polícia. Esse foi o 15º assassinato de 2024 no município, que registrou o 16° ainda mesmo dia. Ao Diário, ela conta sobre os principais ensinamentos do pai:
— Ele tinha uma ligação com muito especial com todos (os filhos), era aquele cara que dizia que ‘o trabalho edifica o homem’, então, pedia que a família trabalhasse muito, mas que nunca perdesse a humildade. Sempre falou em ter o maior orgulho dos filhos e que Deus deu mais do que ele imaginava. Meu pai deixou uma marca muito grande de querer ver a família unida, independentemente se estão juntos ou separados — conta.
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Nascido na localidade de Banhados, interior de Santa Maria, José era o mais novo de seis irmãos. Foi criado pela mãe, que ficou viúva aos 30 anos, quando ele tinha apenas 10 meses. Mesmo com uma infância humilde, teve a oportunidade de iniciar um curso de Técnico em Agrícola em Júlio de Castilhos quando adolescente e, logo depois, prestou serviço militar por 5 anos em Santa Maria.
José foi casado com Ana Maria do Monte, 66 anos, aposentada, por 17 anos. Com ela, teve 3 filhos: Michele, 42, Maiquel, 38, Micael, 28. Já no segundo casamento, com Vanilda da Silva, com quem foi casado por 12 anos, teve o quarto filho: Michel, de 23 anos. Também é avô de Emily, 16 anos, Sophia, 12 anos, Yasmin, 10 anos, e Samuel, 1 ano. Michele conta que o pai sempre sonhou em adotar uma menina, então ele "adotou" como pai do coração a jovem Manuelle, 20 anos, filha do segundo casamento da primeira esposa.
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Por quase 40 anos, foi proprietário de uma serralheria localizada na Faixa Nova, negócio que hoje pertence aos filhos Maiquel e Micael, e trabalha com esquadrias. A partir dos anos 2000, virou empresário do ramo imobiliário, onde trabalhava com a construção de prédios e aluguel de apartamentos. Michele conta que o pai sempre foi muito ativo, saudável e trabalhador:
— Como veio da pobreza, ele batalhou muito, mas muito mesmo. Eu lembro dele trabalhando dia e noite para nos dar tudo aquilo que ele não teve. Ele sempre foi muito enérgico nesse sentido, daquelas pessoas à moda antiga, né? Então, a gente ficou com uma responsabilidade muito grande de manter esse legado e cuidar de tudo que ele sempre cuidou praticamente sozinho — relembra.
Atualmente, ele vivia sozinho em uma chácara em Santa Maria, onde gostava de pescar. Na tarde do crime, José teria ido a uma contadora localizada na Rua Ângelo Uglione quando foi morto. Michele mora em Passo Fundo e conta que o irmão Maiquel, juntamente da esposa Jéssica, foram até o local no momento do ocorrido. Ela também relata que recebeu inúmeras mensagens mencionando a demora do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) para prestar atendimento.
— A gente entende que, às vezes, tem poucas ambulâncias, mas que a gente pede que o governo desse uma atenção especial a Santa Maria e todas as cidades grandes que merecem ter um volume maior aí para que a população seja bem atendida. Talvez meu pai não fosse salvo naquele momento pela gravidade dos ferimentos, mas você sabe que minutos podem salvar uma vida.
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Agora, a família espera a resolução do caso, e também, pede atenção das autoridades:
— Espero que a gente possa o mais breve possível saber o que aconteceu. A gente só quer justiça, é a única coisa que nos resta. Eu ainda não sei te dizer se o caso do meu pai faz parte de todo esse cenário da cidade ou se é algo pontual. Passam muitas dúvidas na cabeça da gente, né? Mas de qualquer forma, o que a gente pede para as autoridades, como sociedade, é um monitoramento maior, porque o caso do meu pai ocorreu no Centro, outros também foram no Centro, então a gente se sente inseguro com isso — finaliza.
Nas redes sociais, amigos, conhecidos, familiares e inquilinos deixam mensagens de apoio para a família.
A cerimônia de homenagem e despedida acontece na capela Ipê Roxo, do Memorial São Martinho, com encerramento previsto para sábado (24), às 14h30min. Na sequência, o cortejo seguirá para o Cemitério Ecumênico, onde José será sepultado.
2024 violento em Santa Maria
A recorrência dos casos de violência em Santa Maria tem surpreendido a comunidade ainda nos primeiros meses de 2024. O assunto já foi comentado pelo ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social do governo federal (Secom), Paulo Pimenta (PT), e também pelo secretário de Segurança Pública do Estado, Sandro Caron.
Ao todo, já são 16 homicídios em 2024 — nos dois primeiros meses de 2023, haviam sido sete. Ainda na quinta, Santa Maria registrou o segundo homicídio do dia, no Bairro Santa Marta. Todos os casos estão sendo investigados pela Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP) de Santa Maria.
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